Exposição “Uma Fantasia para Madeiras”
Descritivo
No âmbito do ciclo de exposições de 2025 denominado “O Designer”, a Sala de Exposições Temporárias do Solar do Ribeirinho recebe, entre os dias 28 de outubro e 5 de dezembro, a exposição “Uma Fantasia para Madeiras” da autoria do artista Miguel Ângelo Martins.
Sipnose:
"Madeira" é o nome de batismo dessa ilha que se enraíza nos confins do Atlântico. É também assim apelidado esse tão cobiçado recurso que, com muito sacrifício, se transportava em alto-mar, de florestas insulares a portos continentais, para erigir os mais luxuosos patrimónios das elites portuguesas.
Se, por um lado, as madeiras nobres e exóticas alimentavam os desejos materiais das classes mais abastadas, a imagem de uma ilha repleta de riquezas, suspensa no Oceano, provocava a sua imaginação.
A palavra "fantasia" deriva do grego antigo, mas há quem acredite que acompanha a humanidade desde o início dos tempos. À semelhança do termo "fantasma", tem ascendência nas palavras phantos ("visível"), phainesthai ("aparece") e phainein ("revelar" ou "tornar visível"). Podemos dizer que o passado assombra o seu presente, lembrando que o desejo encobre o medo, e a cor encobre a cinza.
A madeira serve de eixo de ligação com todos os elementos que forjam a história da nossa ilha: não só é a matéria-prima que dá nome ao novo território lusitano, mas o próprio combustível que alimenta a sua colonização. Nos anéis dos troncos ancestrais — dos tis e loureiros centenários, que testemunharam a chegada dos exploradores — escreve-se o tortuoso cenário que, durante o século XVI, converteu a Madeira na principal superpotência mundial na produção de açúcar e no laboratório do capitalismo moderno. Nessa "pérola do Atlântico" reuniram-se todos os ingredientes necessários: de Canárias vieram os escravos, de Veneza e Flandres o investimento, da coroa portuguesa a anuência, da floresta autóctone a madeira.
Diz-se que o apetite das caldeiras dos engenhos era tão imenso que, em menos de um século, todas as árvores que se erigiam abaixo dos 300 metros de altitude foram devoradas. Ao contrário do que reza a lenda, a Madeira não terá passado apenas sete anos a arder, mas quase um século — até já não restar folhagem que cobrisse as suas encostas. Até Camões, no épico poema lusitano, observava que o arvoredo da Madeira era "mais célebre por nome que por fama". Por essa altura, já o canavial tinha conquistado as terras baixas. A Laurissilva, deixando-se proteger pelos picos mais íngremes, recolhia-se no núcleo da ilha.
Se, ao longo desse século, o açúcar e as madeiras nobres partiam da ilha para multiplicar as riquezas das classes dominantes, à costa chegavam os restos dos barcos naufragados, incluindo preciosos bens, como a manteiga, o azeite de palma, o petróleo, o ferro e as próprias madeiras que se recusavam a deixar a terra-natal. À falta de justiça social, era no destino que os habitantes locais depositavam a esperança de uma maior distribuição da riqueza, recolhendo na costa as esmolas da divina providência. O mar embalava a fantasia de um tesouro dirigindo-se à costa. Em cada onda, uma possibilidade. Para lá do horizonte navegava a fortuna.


